quarta-feira

tempo devorador das coisas

A frase do título é de Ovídio, que escancara uma das certezas mais inconvenientes de todos os tempos. Shakespeare, espetado pela mesma amarga constatação, escreveu: "O tempo devora certezas, materialidades, expressões, relações, e anuncia rupturas e esquecimentos".
Se tudo está no tempo e o tempo devora tudo, de certa forma, devora a si próprio...
De qualquer forma, antes de permitir a estranheza ao espírito, pensemos no amor..



Clepsidra


Instante de Viviane Mosé - poeta, psicanalista e filósofa

.
quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele soprando sulcos?

o tempo andou riscando meu rosto
com uma navalha fina
sem raiva nem rancor
o tempo riscou meu rosto
com calma

(eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença)

acho que a vida anda passando a mão em mim.
a vida anda passando a mão em mim.
acho que a vida anda passando.
a vida anda passando.
acho que a vida anda.
a vida anda em mim.
acho que há vida em mim.
a vida em mim anda passando.
acho que a vida anda passando a mão em mim

e por falar em sexo
quem anda me comendo
é o tempo
na verdade já faz tempo mas eu escondia
porque ele me pegava à força
e por trás
um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos

acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando.



Créditos ao filosofo Mario Sergio Cortella, que em seu livro "Não nascemos prontos!: Provocações Filosóficas" fez uma citação dos “dentes do tempo”, me despertando curiosidade e interesse sobre o assunto. Além de ter sido indiretamente um dos contribuintes para o nome do blog.

3 comentários:

Casa da Redação disse...

Triturem os poemas. Quebrem os dentes. Sintam a voracidade de um escritor no 'país dos leitores banguelas'. Sua obra irá devorar aqueles que não decifrarem o enigma inteligente de seus versos incisivos, de seus poemas molares. Imaginem uma a dor de uma cárie: é o sofrimento do poeta.

Não sou o professor do Rafael. Sou um leitor voraz de sua obra. Raimundo Vieira.

André de Aviz disse...

realmente...o cortela foi feliz neste livro. q bom q vc aproveitou isso. espero conversar sobre esse assunto logo mais...grande abraço, andré de aviz(ah passa la no meu blog tambem,é o corpodebaile.blogspot,com)

Unknown disse...

Muito bom!